Comer peixe-leão pode salvar a costa brasileira da invasão da praga marinha

Com ajuda de pescadores, temido peixe-leão vira iguaria em restaurantes do Caribe. Iniciativa poderia ser importada para o Brasil

Comer peixe-leão pode salvar a costa brasileira da invasão da praga marinha

Ornamental e venenoso, o peixe-leão (ou lionfish) é essa belezinha que aparece nas fotos e que vem tirando o sono de muitos biólogos e oceanógrafos brasileiros. Isso porque ele é considerado uma praga. Além de não ter predadores naturais, O “peixinho” consegue comer até 20 outros em meia hora. Um devorador sem limites.

Originário do Pacífico, foi visto pela primeira vez no Oceano Atlântico, nos Estados Unidos, na década de 1990. Reza a lenda que alguém liberou no mar um peixe desses, usado originalmente para “decorar” aquários na Ásia. E aí o animal fez o que precisou para sobreviver: se adaptou e migrou. 

 

Aqui no Brasil, pesquisadores já encontraram 352 deles até esse ano, ao longo de 2766km de costa, segundo um artigo científico publicado na revista Science Direct, em agosto. Isso inclui filhotes e adultos, como fêmeas carregando ovos.

 

Foram achados em oito estados (Amapá, Pará, Maranhão, Piauí, Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba e Pernambuco) e eventualmente causam alguns acidentes por causa do veneno encontrado nos espinhos.

 

 

Lindo e venenoso: peixe-leão também é comestível

Lindo e venenoso: peixe-leão também é comestível

PIXABAY

A espécie pode chegar até 47 centímetros de comprimento - o que me leva a pensar que rende belos filés. Mas eu não fui a única a pensar nisso. Do Caribe vem uma ideia simples e que pode encher a barriga e o bolso de muita gente.

Antes que a praga se consolide, talvez valha a pena considerar uma solução até que óbvia para conter o avanço do peixe-leão: consumir o animal como iguaria.

Um mini-doc publicado na revista Eater mostra como pescadores da região de Bermudas criaram um método para capturar esses peixes e ajudar no equilíbrio ambiental. O documentário traz uma experiência de pesca e cozinha que poderia ser reproduzida no nordeste brasileiro.

 

 

O coordenador do projeto, o especialista em peixe-leão Chris Flook, mostra como o peixe agora faz outro tipo de migração: dessa vez do mar para prato.

 

Primeiro, foi necessário vencer o medo dos chefs em trabalhar com um animal venenoso. Mas em pouco tempo, a comunidade local começou a perceber que além de ser um alimento saudável, rico em Ômega 3, o peixe-leão é muito saboroso também.

Segundo os cozinheiros, o pescado tem uma carne muito suave e ótima para ceviche (peixe cortado cru em cubos ou fatias e cozido somente no suco de limão). Há também a versão frita e servida como um tempurá, ou então grelhada como recheio de tacos.

Não seria inédito aqui no Brasil consumir um peixe venenoso como iguaria. Muitos restaurantes compram e servem, por exemplo, o baiacú como ceviche ou mesmo sushi... E olha que o risco, nesse caso, é bem maior que no corte do peixe-leão.

O veneno no baiacu está numa glândula interna, que pode contaminar a carne comestível. Já o do peixe ornamental está somente nos espinhos externos, que podem ser removidos antes mesmo do produto chegar às cozinhas dos restaurantes.

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