Violência contra mulheres em desastres climáticos (por Felipe Sampaio)
O estudo aponta que a mudança climática já é, e será, o maior fator de aumento da violência contra mulheres e meninas
O risco de morte das mulheres em catástrofes ambientais é 14 vezes maior doque o dos homens. A conclusão alarmante está no relatório da ONU, “A violência Contra Mulheres e Meninas no Contexto da Crise Climática” (julho/2022), que revela a trágica relação entre a violência de gênero e a devastação ambiental.
O estudo aponta que a mudança climática já é, e será, o maior fator de aumento da violência contra mulheres e meninas. Nesse cenário, a Relatora Especial da ONU para Violência Contra Mulheres e Meninas, Dra. Reem Alsalem, recomenda que “a resposta global à mudança climática incorpore [com urgência] um enfoque de gênero robusto”.
Conforme publicado na plataforma climainfo.org.br, algumas causas de elevação da violência contra as mulheres, associadas a desastres naturais, são: a escassez de alimentos e água, conflitos armados, migração, tráfico de pessoas, violência sexual e a perda da independência financeira e moradias.
As conclusões confirmam o alerta do Grupo Intergovernamental de Especialistas em Mudança Climática: “a crise climática é um multiplicador de ameaças, com pior impacto sobre quem já vive em maior grau de vulnerabilidade”, como é o caso das mulheres e meninas.
Pode-se afirmar, por exemplo, que nas sociedades com elevado grau de opressão de gênero, o menor acesso das mulheres a meios de informação e comunicação retarda sua reação em casos de desastres naturais, diminuindo suas chances de sobrevivência.
Do mesmo modo, em seguida aos desastres ambientais, constata-se um aumento das ocorrências de violência sexual contra mulheres e meninas, “como ocorrido durante o furacão Katrina, a seca na Austrália e os incêndios na California” (fonte: Advocates for Human Rights).
No caso da Austrália, a perda de empregos masculinos em função da estiagem elevou a importância das mulheres no sustento familiar, acarretando um aumento na violência doméstica como afirmação de poder dos homens.
Outro exemplo se refere à exposição a pesticidas nas áreas rurais, que afeta o sistema endócrino feminino com maior intensidade do que nos homens, com agravante na gravidez. O mesmo ocorre na falta de água potável na fase de lactação (Escritório da ONU para o Meio Ambiente, 2021).
Nesse contexto, a Relatora Especial da ONU conclui que, sendo assim, a colocação das meninas e mulheres no centro das políticas (multilaterais e nos Estados) para mitigação e adaptação às mudanças climáticas terá um efeito profundamente transformador no quadro de desigualdades sociais como um todo.
Felipe Sampaio: membro do Centro Soberania e Clima; foi secretário-executivo de Segurança Urbana do Recife; ex-assessor especial dos ministros da Segurança Pública (2018) e da Defesa (2016-2018).